Rammestein no Brasil...
Show –Rammstein, no Via Funchal - São Paulo, 30/11
Com 16 anos de estrada e seis álbuns de estúdio, grupo alemão Rammstein está no Brasil, depois de 11 anos, para novos shows. A amálgama de hard rock, metal e música eletrônica, resulta num som furioso que costuma ser denominado de “Neue Deutsche Härte” (literalmente: Nova Dureza Alemã) e o sexteto Rammstein é o mais popular representante do gênero e merece o crédito.
Formado em 1994, o grupo teve como inspiração para o nome um acidente aéreo acontecido na pequena cidade alemã Ramstein, em 1988, durante uma exibição em que aviões da força aérea colidiram e caíram em cima da plateia, provocando a morte de dezenas de pessoas. O primeiro disco foi “Herzeleid”, em 1996, mas a fama mundial veio com “Sehnsucht”, um excelente álbum de 1998, que rendeu um hit mundial: Du Hast; porém, o amadurecimento veio com “Mutter” de 2001. A banda é composta por Richard Kruspe (guitarra), Paul Landers (guitarra), Till Lindemann (vocal), Christian Lorenz (teclados), Oliver Riedel (baixo) e Christoph Schneider (bateria) e age como um grupo teatral perfeitamente ensaiado, revelando assim a raiz alemã.
Seu mais recente disco é "Liebe Ist Für Alle Da" que saiu em 2009 e fez enorme sucesso na Europa e Estados Unidos; o primeiro single, “Pussy”, se tornou um hit, principalmente pela ação viral da internet. Os shows do grupo, sempre grandiosos e repletos de efeitos pirotécnicos — o vocalista Till Lindemann, que já foi nadador olímpico, já cantou coberto com fogo da cabeça aos pés— chega por aqui em uma versão mais light em termos de cenário, pois ficaria inviável economicamente atravessar o atlântico com toda a parafernália.
Apesar disto, não faltaram luzes e efeitos neste primeiro show para incrementar a avalanche sonora do grupo. Eles sempre se declaram uma banda de palco e provaram isso do começo ao fim do show, que traz como repertório um mix de todos os trabalhos do grupo (paradoxalmente nada em catálogo por aqui). Como a língua de sua música é o alemão, o show se torna extremante teatral e expressionista, complementado por danças robóticas e um instrumental impecável.
Fica evidente que o público brasileiro gosta e se identifica bastante com esta mistura eletrônica/ hard, mas é pouco brindada com representantes reais do estilo, como nesta ocasião; fica ai uma sugestão para trazer outros pares. A prova foi um show que não aceita proselitismo, provado por incontáveis camisetas pretas e coturnos e uma plateia que respondia em uníssono, em alemão.
A voz grave, vindo do alto dos 1,90m do vocalista Lindemann, emoldurada pelas características das notas repetidas e acentuadas do estilo da banda criam uma sensualidade obscura e envolvente, um fetiche contextualizado, mas mesmo assim, dá para se entender o porquê do mais recente disco não poder ser adquirido por menores de 18 anos na Alemanha, sendo a primeira vez que um álbum inteiro é censurado naquele país desde 1987, quando algo semelhante afetou a banda punk Die Ärtzte. Se como foi dito, o grupo não trouxe todo seu cenário, o que foi visto em termos de fogo, explosões, fumaça, figurinos e adereços, já bastou para deixar o ambiente esfumaçado a ponto de preocupar os seguranças da casa, transformando o show em uma espécie de ópera pós-nuclear, a qual era possível ouvir, ver e cheirar.
Se a tradução do mais recente disco do grupo é “O amor é para todos” e o intuito deste show, segundo o próprio guitarrista, "...é sentir algo parecido com a primeira vez em que se apaixonaram", estas diferentes formas de amar mostram ainda a diferença entre um verdadeiro show ao vivo e o mundo virtual que lhe tem roubado as plateias, onde HDs e sofisticados sistemas sonoros tentam levar para quatro paredes as magias de um concerto público, o que em certos casos é recomendável , porém, como no caso o Rammstein, vale a pena sair de casa, mesmo depois de um dia de caos chuvoso em São Paulo; aliás nada mais apropriado!